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Ensaios e Reflexões

Arquitectura Moçambicana: Caras Que Se Vêem, Corações Que Não Se Sentem.

Quem Constrói Moçambique: Arquitecto ou Empreiteiro?

Arquitecto Deve Ser Rico?

ARQUITECTURA MOÇAMBICANA: CARAS QUE SE VÊEM, CORAÇÕES QUE NÃO SE SENTEM.
14 Abr 2015, Pedro Massarongo Jr.
   
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Já diz o ditado: "Quem vê caras, não vê corações".

Reflectindo sobre a criação arquitectónica no Moçambique actual, aquela que define a imagem das nossas cidades, rapidamente se pode concluir que os edifícios que vem redecorando as cidades não reflectem uma beleza característica do local onde se implantam. Maior parte dos bons exemplos construídos recentemente, não apresentam nenhuma relação estética que intuitivamente situe a sua imagem geograficamente.

Assim, torna-se necessário repetir a questão colocada pelo Prof. Dr. Castiano, aquando da primeira palestra "Noites de Sociologia": Qual é o nosso lugar na construção da imagem da nossa cidade? Somos os arquitectos ou os pedreiros? Onde está a arquitectura moçambicana?

O contexto em que a questão é colocada é o de que embora boa parte do trabalho e maior número de intervenientes numa obra é da classe operária, o resultado final é em maior parte determinado pela classe de chefia/direcção, ou seja, os arquitectos (projectistas). Neste momento, em particular, as caras que compõem a paisagem das nossas cidades não representam os corações que nela habitam e que a ela pertencem.

É um facto que conceber uma arquitectura moçambicana nos dias de hoje constitui um desafio intelectual gigantesco. Primeiro, porque a globalização quebra as barreiras de pensamento de grupos definidos e reduz idiossincrasias nacionais. Segundo, porque dentro do domínio idiossincrático, o povo moçambicano é uma amálgama de povos, composta de misturas geográficas e cronológicas.

Porém, exactamente por este povo ser um poço de diversidade, a expressão cultural da sua grande arquitectura deveria ser igualmente rica, como são esteticamente ricos os muros de vedação das cidades de Maputo, Matola e Tete, por exemplo. Reflectindo os corações dos seus utilizadores.

Portanto, é um dever intelectual buscarmos ser os arquitectos da nossa arquitectura. E a nossa arquitectura, deve ser o resultado da análise dos projectistas sobre a utilização que a nossa sociedade faz do espaço construído. Essa análise só pode ser feita se os profissionais e/ou intelectuais da área se derem tempo de observar a sociedade e vê-la de sem tabus: uma sociedade que migrou do colonialismo para a globalização, passando rapidamente por um período onde se impunha uma ordem e um atitude sociais comuns; uma sociedade dual, com desigualidades socio-económicas e infra-estruturais abismais.

Tome-se como exemplo, os grandes edifícios de escritórios que têm surgido na cidade de Maputo, com todas as benfeitorias úteis e voluptuárias dignas de um CBD do mundo globalizado. Dentre os funcionários das empresas que ocupam tais edifícios, encontraremos, sem dúvida, os pertencentes à classe dos que não têm água canalizada ou sanita convencional em sua casa.

Descobrir a maneira como a nossa sociedade percebe o ambiente construído - na sua dimensão estética, emocional e técnica - e enquadrá-la dentro de uma lógica não me parece tarefa irrelevante. Como disse Gropius (1962): "We should lead our architecture from observation to discovery, and from discovery to invention".

Segundo Saboya (2008), cada cidadão tem determinadas associações com partes da cidade, e a imagem que ele faz delas está impregnada de memórias e significados. Assim, aceitando esta hipótese, iremos resgatar o princípio de imageabilidade de Lynch (1960): qualidade de um objecto físico que lhe dá uma alta probabilidade de evocar uma imagem forte em qualquer observador.

A busca pela arquitectura moçambicana pode começar na busca por esta imageabiliade dos nossos edifícios. Da mesma maneira que determinados ritmos de música provocam uma empatia instantânea à determinados ouvintes, há que considerar que o mesmo pode acontecer com a arquitectura.

Outro meio da busca, ainda socorrendo-me de Lynch, é a legibilidade, definida como a facilidade com que cada uma das partes da cidade pode ser reconhecida e organizada em um padrão coerente. E se reflectirmos com calma, veremos que não é uma utopia, pois de alguma forma Maputo ficou conhecida como a "cidade das acácias".

É certo que o exercício criativo é baseado em referências, e que os meios de informação mais disponíveis pouco ou nada transmitem sobre as culturas da África Bantu. Mas é preciso investigar e descobrir. Re-descobrir.

A Globalização é inevitável e, quiçá, necessária. Mas nesta auto-estrada de informação a que ela nos submete, afigura-se-me irrefutável que a cultura moçambicana, e a arquitectura como parte dela, estejam a ser abalroadas e ultrapassadas.

Não se está a apregoar a projectação de palácios em pau-a-pique ou arranha-céus de pedra. Mas como moçambicano que sou, sinto-me, amiúde, frustrado por não ter esta moçambicanidade sistematizada, de maneira que possa expressá-la coerentemente no ambiente arquitectónico que contribuo para criar.

Há necessidade de buscar e difundir valores, aplicá-los nos vários seguimentos do quotidiano - na criação, na gestão, na operacionalização, nas relações com as camadas operárias - para que erupcione uma atitude profissional, uma visão artística, um modelo de vida a que poderemos chamar identidade moçambicana. Nesse estágio, aos arquitectos, àqueles que quiserem ser dignos de carregar tal título, não restará outra postura senão projectar espaços moçambicanos: para serem utilizados por todos e que estejam inquestionavelmente em moçambique. Na forma, no espaço e na ordem.

Segundo Forjaz (2012), a proporção é a moral da forma, e a forma vem de um processo. Parece-me que a busca sociológica é parte importante deste processo.

Como fazer passar esta busca pelas estreitas portas da especulação fundiária/imobiliária actual e pelo corredor escorregadio dos determinantes da procura? Esta, sim. É a questão! [ ]


Pedro Massarongo Jr. é Arquitecto, licenciado pela FAPF - UEM em 2011. Iniciou-se na actividade profissional ainda enquanto estudante, tendo estagiado em 5 gabinetes de arquitectura e construção entre 2007 e 2011. No mesmo período participou em projectos de requalificação urbana, reassentamento populacional e de levantamento patrimonial imobiliário. De 2012 a esta parte é colaborador em empresa de construção civil e obras públicas, na área de coordenação de projectos e apoio à coordenação de obra. É também contribuinte permanente no espaço Ensaios e Reflexões, na página archimoz.com
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QUEM CONSTRÓI MOÇAMBIQUE: ARQUITECTO OU EMPREITEIRO? 
Pedro Massarongo Jr., 16 Dez 2011
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Por muitos que sejam os argumentos sobre os entraves causados pelo regulamento “antiquado” das edificações em vigor em Moçambique, um facto torna-se claro ao circular pelas ruas de Maputo: a qualidade das construções decaiu do ponto de vista estético e, principalmente, do ponto de vista técnico, comparando a República Popular de Moçambique com a República de Moçambique.

Igualmente, torna-se cada vez mais evidente que os alegados recursos financeiros limitados dos requerentes de projecto e/ou donos de obra, não são a causa desta fraca qualidade. Se assim o fosse, o Estado, sendo o maior cliente das principais entidades representativas do sector da construção em Moçambique, não teria tantas queixas em relação à qualidade das obras públicas realizadas por entidades nacionais ou que actuam em Moçambique. A justificação da falta de qualidade com base na falta de recursos do requerente serve apenas para o cliente particular comum que, como é já sabido, “não merece” a atenção do arquitecto.

O ambiente interno e externo ao edificado, e o espaço urbano directamente relacionado a si, transformam e registam de forma subtil toda a vivência que neles ocorre. Por outro lado, os utentes de um espaço estabelecem relações psicológicas complexas com o ambiente que os circunda, pelo que a boa arquitectura transcende os interesses particulares dos intervenientes no processo de construção.

A partir do momento que nos desvinculamos da administração faraónica ou imperial, em nome da liberdade criativa na construção, é pura utopia esperarmos que surja algum instrumento legal que impeça a realização de edifícios horríveis[i]. Cabe aos intervenientes no processo de construção, e apenas a estes, o estabelecimento ou não de um ambiente construído de qualidade. E para ter um ambiente de qualidade é necessário que haja harmonia ou equilíbrio entre os elementos que compõem a paisagem.

Deixando de lado o valor estético - por respeito à crença de que os gostos não se discutem - convidamos o leitor a reflectir sobre os seguintes locais na Cidade de Maputo: os dois edifícios em construção na esquina Norte entre as avenidas 24 de Julho e Vladmir Lenine, o Ministério dos Antigos Combatentes na  esquina Sul entre as avenidas 24 de Julho e Mártires da Machava e o Edifício Time Square. Os casos citados - certamente existem outros em situação mais grave na cidade e no país -  são exemplos de edifícios onde não se pode falar na verdadeira escassez de recursos financeiros e que ainda assim, possuem defeitos intragáveis para quem frui e usufrui do edifício: rampa para deficientes com inclinação excessiva, alvenarias com alinhamentos muito desviados (deixando muito trabalho para o reboco), tectos falsos colapsados, elevadores panorâmicos e fontenárias avariadas.

Ora, ao problema das rampas atribui-se a responsabilidade quase que exclusivamente ao projectista, uma vez que a sua inclinação é condicionada pela posição no espaço, altura a vencer e configuração escolhida. Todos estes parâmetros são (ou deveriam ser) manipulados no projecto.

As alvenarias desviadas ou desalinhadas e os tectos falsos colapsados são um problema derivado da má execução técnica e/ou baixa qualidade dos materiais usados. Esta é uma responsabilidade que se atribui aos empreiteiros, principalmente, pelo facto de grande parte das empreitadas serem do tipo “Série de Preços”, com os empreiteiros a fazerem o fornecimento de materiais.

As fontenárias avariadas e elevadores panorâmicos avariados, e quebra-sóis partidos, são de responsabilidade bi-partida, entre os projectistas e os empreiteiros: para os projectistas vai a má escolha de materiais ou tecnologias pela sua difícil manutenção; para os empreiteiros vai a má aplicação e a ausência de boa fé no que se refere às propostas de variantes de projecto.

Existem, claro, bons exemplos também de edificação recente, como são os casos de: Tiger Centre (av. Ho Chi Mihn, Maputo), Prédio Tivane (esquina Av. Armando Tivane e Rua de Kassuende, Maputo), Hotel Casa do Capitão (cidade de Inhambane) e outros. Estes edifícios são considerados bons pela boa conjugação dos diversos valores de que deve ser resultado uma obra de arquitectura: servir os interesses do dono da obra, salvaguardar o interesse público (enquadramento na paisagem, conservação a longo prazo, mais-valias para os espaços públicos), respeitar os regulamentos de construção e trazer valor estético.

Arquitectura não é a imagem renderizada, não é só a fachada, e não é também apenas um edifício bem construído. Arquitectura são os vários elementos actuando como um todo, sem que algum tome primazia: o aspecto exterior, o espaço interior gerado pelo edifício bem construído e a interacção exterior do mesmo com a paisagem circundante.

Disto depende um esforço sistemático dos intervenientes, dentro de um compromisso mais pessoal e moral do que legal, de servir bem ao público. Pois, se algum dia as pessoas aprenderem a ler o mundo das formas e materiais como Benévolo[ii] apelava, os arquitectos e empreiteiros poderão encontrar-se em situações tão ridículas como a de apresentar um soneto com dez versos. [ ]

[i]ZEVI, Bruno. Saber Ver Em Arquitectura. São Paulo: Martins Fontes, 1994
[ii]BENEVOLO, Leonardo. A História da Cidade. São Paulo: Perspectiva, 1999


Pedrito Massarongo Jr. é Arquitecto, licenciado pela FAPF - UEM em 2011. Iniciou-se na actividade profissional ainda enquanto estudante, tendo estagiado em 5 gabinetes de arquitectura e construção entre 2007 e 2011. No mesmo período participou em projectos de requalificação urbana, reassentamento populacional e de levantamento patrimonial imobiliário. Actualmente, é colaborador em empresa do ramo de mobiliário e contribuinte permanente no espaço Ensaios e Reflexões, no archimoz.com
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ARQUITECTO DEVE SER RICO?
Pedrito Massarongo Jr., 17 Nov 2011 
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A crítica da arquitectura não é abrangente, pois na maioria dos casos, ela debruça-se sobre a grande arquitectura que, naturalmente, só pode ser paga pelas grandes instituições (estados, multi-nacionais, clubes desportivos, etc.) ou pelas minorias abastadas.

A actividade massiva dos pequenos arquitectos, muito mais frequente e de resultados construídos mais imediatos, poucas vezes é merecedora de uma avaliação cuidada. A crítica, maioritariamente, cita a pequena arquitectura de forma generalista, tendencialmente com o objectivo de destacar determinada intervenção da grande arquitectura.

O arquitecto, como um profissional de produção, precisa adaptar-se ao mercado em que opera, e a ambição natural de todas formas de vida é a evolução. Evoluir como? A evolução, sendo definida como uma série de transformaçoes sucessivas de um órgão, teoria ou ideia, implica a colocação à prova da coisa evolutiva. Ou seja, para que o arquitecto evolua este deve por-se à prova e o seu trabalho deve ser objecto de análise crítica de modo a aferir ao estado evolutivo.

Entretanto, a arquitectura corrente é geralmente classificada como obra de gosto duvidoso, desprovida de valores estéticos ou seguidora de estilismos internacionais sem qualquer relação com o momento social local ou com a cultura moçambicana. Considerando esta posição verdadeira, como se pode exigir do profissional criador de arquitectura a detenção da ferramenta tríplice (criatividade, rigorosidade e conhecimento) num país onde a maior parte da população – utentes e fazedores de arquitectura – tem um baixo poder de compra? Deve também considerar-se que há cerca de 10 anos observou-se o surgimento de uma classe média/alta que suporte os custos da urbanização e da economia de mercado, e que elevou com os seus rendimentos o seu nível de exigência.

Segundo WATTLES (2005, p.5) “ninguém consegue chegar ao mais alto patamar do talento ou do desenvolvimento espiritual sem ter dinheiro suficiente. Para despertar espiritualmente e desenvolver o talento, deve-se ter muitas coisas, e não se pode tê-las sem dinheiro pra comprá-las.”

Portanto, o arquitecto deve possuir meios de aquisição dos instrumentos que lhe permitam melhorar a qualidade do seu serviço. Não é válido considerar a mesma proposição para todas as profissões – embora todas áreas devam ter meios que melhorem a sua prestação – pois o objectivo é recordar que a profissão de arquitecto é nobre, principalmente por se debruçar sobre uma das necessidades básicas do Homem. Em certa medida, a arquitectura é um serviço de utilidade pública. Outrossim, Ledoux (1736-1804) considerava o arquitecto como um dos deuses que devem satisfazer às necessidades primárias do ser humano.

Não se está a defender a concessão gratuita de regalias e benesses ao profissional de arquitectura, mas pelo contrário, defende-se uma melhor apreciação do seu trabalho e o devido reconhecimento económico. Consequentemente, a melhor apreciação implica uma crítica activa sobre o resultado alcançado e uma profunda consideração pelos meios de produção usados. Ou seja, o arquitecto tem o dever de gravar a excelência em tudo o que faz e o direito a ter retribuição justa e que lhe permita expandir a sua actividade.

Na difícil sociedade da economia de mercado, onde a ética e a decência entram em constante rota de colisão com o lucro, o tratamento da arquitectura como um produto de mercado monetário, sujeito às promoções, descontos, ofertas e especulação, resultará em: perda de qualidade (formal, funcional ou técnica), estagnação artística, concorrência desleal e monopólio.

A reacção a este cenário reside no reconhecimento, por parte da sociedade, do valor de uma boa formação técnica e ética do profissional de arquitectura, e dos custos que daí advêm; por parte do arquitecto, deve existir a responsabilidade social e económica pelas suas acções, e a noção de que a qualidade do seu trabalho deve ser sustentada e sustentável.

A arquitectura de qualidade tem um custo. A repetição de vários elementos de qualidade, dispostos convenientemente, significa um aumento na cadeia de valor do ambiente urbano, que significa um benefício à toda sociedade.

Logo, o arquitecto deve enriquecer para que através de si a sociedade, como um todo, evolua. Pois o desejo da riqueza é, na verdade, o desejo por uma vida mais produtiva e mais próspera. [ ]

Pedrito Massarongo Jr. é Arquitecto, licenciado pela FAPF - UEM em 2011. Iniciou-se na actividade profissional ainda enquanto estudante, tendo estagiado em 5 gabinetes de arquitectura e construção entre 2007 e 2011. No mesmo período participou em projectos de requalificação urbana, reassentamento populacional e de levantamento patrimonial imobiliário. Actualmente, é colaborador em empresa do ramo de mobiliário e contribuinte permanente no espaço Ensaios e Reflexões, no archimoz.com
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